Jornal Vascular Brasileiro
https://www.jvascbras.org/article/doi/10.1590/1677-5449.202201511
Jornal Vascular Brasileiro
Editorial

O impacto emocional do paciente no tromboembolismo venoso

The emotional impact on patients of venous thromboembolism

Alcides José Araújo Ribeiro; Marcos Arêas Marques

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A comunicação do diagnóstico de certas doenças, como o tromboembolismo venoso (TEV), pode ser um grande desafio. Com o advento da pandemia causada pela covid-19 e a divulgação da sua associação com TEV e morte, o medo e a apreensão dos pacientes com a palavra “trombose” aumentaram muito. Existe uma certa incompatibilidade entre os objetivos do médico e as necessidades e os anseios do paciente vítima de TEV. Em geral, dedica-se pouca atenção às questões emocionais, e estas afloram substancialmente ao informar um paciente e sua família sobre esse diagnóstico1.

Os impactos psicológicos e emocionais nesses pacientes raramente são avaliados nos estudos relativos ao TEV. Feehan et al.2, ao analisarem as consequências psicológicas em 907 pacientes com TEV, encontraram medo diário de retrombose em torno de 40% dos participantes, quadro de ansiedade em 24,7% e quadro de depressão em 11,6%. Os pacientes mais jovens relatam um impacto maior do TEV em suas vidas, com altos níveis de ansiedade, medo, pânico, pesadelos e sintomas de estresse pós-traumático3, e pacientes com TEV podem ter mais ansiedade do que pacientes com outras doenças graves, como infarto agudo do miocárdio2.

Um estudo canadense levantou sete temas maiores relacionados à experiência do paciente com TEV: o impacto agudo (choque inicial e sintomas físicos), o sofrimento psicológico persistente (medo de recorrência e morte), a perda de si mesmo (mudanças de hábitos e tomada de decisões para o futuro), os desafios no tratamento do TEV (anticoagulação e meias de compressão elástica), o equilíbrio nas mudanças de vida, a experiência negativa com o sistema de saúde (atrasos e erros diagnósticos) e o TEV no contexto de outras doenças4.

A linguagem alarmista e as metáforas médicas mal colocadas foram identificadas como fontes de ansiedade neste contexto. Artigos relatam frases selecionadas pelos pacientes como altamente prejudiciais, como: “já vi pacientes morrerem com o que você tem”, “você poderia ter morrido se não tivéssemos feito este diagnóstico hoje” e “você é uma bomba-relógio ambulante”5. O médico deve sempre usar linguagem básica e leiga, com tempo e local adequados para se comunicar com o paciente, procurando usar técnicas de comunicação de más notícias, como o protocolo SPIKES (do inglês, setting up, perception, invitation, knowledge, emotions, strategy and summary), por exemplo. Deve-se verificar constantemente a compreensão do paciente sobre cada componente abordado e observar o cuidado com a postura e a linguagem não verbal, evitando fácies de preocupação, tensão e descaso5. Termos como “síndrome do pânico pós-trombose” e “tromboneurose” são cada vez mais frequentes na literatura especializada6.

Os médicos podem contribuir para o sofrimento psicológico pós-trombose, mas podem e devem atuar no sentido de reconhecer e atenuar essas manifestações através de várias ações, como: a avaliação precoce por um médico especialista, a escuta ativa do paciente, a abordagem de suas preocupações, o fornecimento de informações impressas e on-line sobre a doença e a orientação sobre grupos de apoio, sites confiáveis e palavras chaves específicas para pesquisa na internet, além de uso de recursos didáticos como modelos anatômicos, por exemplo7.

O impacto psicossocial do TEV pode ser muito traumático e mudar a vida do paciente; portanto, urge a necessidade de disponibilizar diretrizes baseadas em evidências específicas para o manejo dessas sequelas emocionais, bem como a criação de programas de educação médica continuada neste tópico. Com reconhecimento, empenho e empatia, podemos melhorar a experiência e a recuperação integral dos pacientes vítimas do TEV.

E fica o questionamento: “Eu comunico o caso de trombose venosa do meu paciente da maneira ideal?”.

References

1 Goldhaber SZ. Emotional and psychological coping after venous thromboembolism. Thromb Haemost. 2009;102(6):1007-8. http://dx.doi.org/10.1160/TH09-09-0648. PMid:19967127.

2 Feehan M, Walsh M, van Duker H, et al. Prevalence and correlates of bleeding and emotional harms in a national US sample of patients with venous thromboembolism: a cross-sectional structural equation model. Thromb Res. 2018;172:181-7. http://dx.doi.org/10.1016/j.thromres.2018.05.025. PMid:29843918.

3 Højen AA, Dreyer PS, Lane DA, Larsen TB, Sorensen EE. Adolescents’ and young adults’ lived experiences following venous thromboembolism: “it will always lie in wait. Nurs Res. 2016;65(6):455-64. http://dx.doi.org/10.1097/NNR.0000000000000183. PMid:27801716.

4 Genge L, Krala A, Tritschler T, et al. Evaluation of patients’ experience and related qualitative outcomes in venous thromboembolism: a scoping review. J Thromb Haemost. 2022;20(10):2323-41. http://dx.doi.org/10.1111/jth.15788. PMid:35730241.

5 Hernandez‐Nino J, Thomas M, Alexander AB, Ott MA, Kline JA. Communication at diagnosis of venous thromboembolism: lasting impact of verbal and nonverbal provider communication on patients. Res Pract Thromb Haemost. 2022;6(1):e12647. http://dx.doi.org/10.1002/rth2.12647. PMid:35071970.

6 Hunter R, Lewis S, Noble S, Rance J, Bennett PD. “Post‐thrombotic panic syndrome”: a thematic analysis of the experience of venous thromboembolism. Br J Health Psychol. 2017;22(1):8-25. http://dx.doi.org/10.1111/bjhp.12213. PMid:27611117.

7 de Wit K. Do physicians contribute to psychological distress after venous thrombosis? Res Pract Thromb Haemost. 2022;6(1):e12651. http://dx.doi.org/10.1002/rth2.12651. PMid:35106433.
 


Submitted date:
11/23/2022

Accepted date:
12/08/2022

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